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11 de jan. de 2011

PARTE II

+A +/- -A
PAIXÃO & CRUELDADE


Bella PDV

Assim que J.P e eu adentramos o Democracy, sentimos o peso da nova atmosfera. Por causa das acusações, a diretoria junto com a polícia abordou Mike antes de ele passar pelos portões. O cara foi obrigado a abrir o armário, e lá foram encontrados papelotes de cocaína e três mil dólares. Newton, além de ser expulso, foi encaminhado para a delegacia, onde se complicou bastante.
Como uma das acusações foi confirmada, tiveram que investigar o “casinho” do Sr.Molina, mas nada pôde ser provado contra ele. Não me preocupei em ferrar com a vida do babaca, pois já estava satisfeita em ver Jéssica ser motivo de piadinhas.

Todos os segredinhos que revelamos se espalharam pelos corredores e salas de aula. Ninguém mais sabia o que era verdade ou mentira, tornando tudo muito divertido para J.P e eu. Tínhamos nos preparados para o caso dos alunos se voltarem contra os filhos da democracia, mas ao invés de nos repudiarem, passamos a ser admirados pela maioria. Eles se sentiam aliviados por alguém finalmente ter tido a coragem de peitar as farsas. As pessoas começavam a se cansar da reputação mentirosa de “colégio ideal”.

Durante uma semana assistimos de camarote a diretoria lutar para reprimir qualquer manifestação de apoio aos filhos da democracia. Com os pais de alunos preocupados e os professores exigindo medidas que os protegessem de novas calúnias, a diretoria teve que usar a influência do presidente do grêmio a seu favor. Edward liderou reuniões, sugeriu palestras e se socializou com os jovens suspeitos, tentando garantir assim, o sono da nata do Democracy.

Ele dizia a todos que o incidente com o ex-Falcon fora algo isolado. Insistia em polir a imagem da instituição e de seu “governinho”. Dizia estar no lado dos alunos, mas não parava de nadar contra a correnteza, buscando manter sempre as máscaras de sua corja. Infelizmente, ele ainda era admirado e respeitado. As pessoas confiavam no cretino, pois ninguém conseguia passar mais confiança do que ele. Alguns de seus puxa-sacos se engajaram numa campanha para manter a aparência de melhor colégio do Estado. Só que, para o Cullen, as coisas estavam ficando cada vez mais difíceis. Os times rivais ajudaram a expandir as fofocas contra os Falcons, pois era do interesse deles que o time inteiro ficasse desmoralizado. Por conta disso, os Falcons tiveram que fazer exames toxicológicos. Os rapazes estavam aparentemente “limpos”, mas várias pessoas desconfiavam do resultado, pois se Mike vendia drogas, alguém ali comprava, e o time, junto com os “populares”, eram suspeitos em potencial.

Durante aqueles dias, não dei em cima de Edward. Queria que o idiota estivesse 100% concentrado na sensação de que seu “reino” começava a ruir. Então, quando uma nova semana começou, resolvi arregaçar as mangas e voltar a atormentá-lo.

Edward PDV

Depois do treino, fiquei para discutir com o treinador minha nova posição. Com a expulsão de Mike, virei o armador do time. Agora eu era o melhor Falcon. Fui para vestiário ansiando por um banho. O local estava vazio e agradeci aos céus por isso. Um pouco de silêncio ia fazer bem à minha mente.

Abri o chuveiro e me coloquei em baixo do jato quente. Minha cabeça pesava e meus ombros doíam. Isso tudo era reflexo do constante estresse em que vivia. Pousei minha testa no azulejo e fechei os olhos. Me permiti não pensar em absolutamente nada por alguns minutos, então senti o cheiro de fumaça de cigarro, o que era muito estranho, já que ninguém do time fumava.

Fechei o chuveiro e olhei para trás. Fiquei surpreso de não encontrar ninguém. Será que estava finalmente ficando louco? Cansado demais para questionamentos, voltei ao banho e novamente encostei minha testa no azulejo. O som da água era quase um analgésico para a dor de cabeça que estava sentindo, por isso me concentrei no som o máximo que pude.

De repente, senti uma mão em minhas costas. Imediatamente me virei, encostando-me na parede.

- Droga! Quer me matar? - Bufei colocando a mão no peito. Meu coração havia disparado.

- Matar você? - Bella deu uma tragada em seu cigarro. - Hum... Não me dê idéias. - Sorriu.

- Não pode estar aqui. Saia!

- Adoro quando tenta mandar em mim. - Lambeu o filtro do cigarro.

Peguei minha toalha e fui para os armários mostrando que não queria conversa. A ninfomaníaca me seguiu e eu já nem sabia como lhe dar um fora. Nada funcionava com ela.




Abri meu armário e fingi ignorar Bella, que por sua vez sentou-se no banco, o qual ficava no meio do corredor. Pelo canto do olho a vi passar a perna por cima do banco, montando nele com extrema sensualidade.

Por que isso está acontecendo justo comigo?

- Você pelado é bem mais gostosinho do que tinha imaginado. - Me fez ouvir sua típica risada irônica.

- Sabe, Bella, conheço o seu tipo. - Me virei para ela e procurei falar com tranquilidade.  - Bobonas que tentam fisgar um cara com dinheiro e popularidade, só para se tornarem o centro das atenções. Devo te dizer que sou imune às suas artimanhas. Já dispensei muitas garotas iguais a você.

 - Não, Edward... - Ficou de pé em cima do banco e passou a caminhar lentamente em minha direção. - Nunca conheceu uma garota como eu. - Sua voz ficou repentinamente sombria.

O pior é que ela tinha razão. Era mesmo diferente das outras oferecidas. Por mais que suas coxas cobertas por uma fina meia e seu decote ousado fizessem qualquer um pensar “bobagem”, era seu rosto que me confundia. Sua delicada boca era vermelha como sangue e parecia haver veneno escorrendo por seus lábios sempre que me dirigia a palavra. Já seus olhos eram simplesmente perturbadores. Às vezes pareciam ligeiramente tristes, mesmo quando ela gargalhava. Bella sempre me olhava com uma cobiça que ia além do desejo sexual, isso me deixava nervoso e ao mesmo tempo atraído.

Assim que a pirada me alcançou, pulou do banco e me encurralou contra o armário.

- As menininhas que conheceu, incluindo sua namorada, não chegam aos meus pés. - Jogou o cigarro fora e passou as mãos pelo meu peito. - Posso ser seu sonho mais prazeroso ou um atormentador pesadelo. - Cravou as unhas na minha barriga. - Quer uma virgenzinha? Quer uma pervertida? Posso ser ambas... Porque eu sou tudo.

Era difícil pensar no que responder.

- Só... - Respirei fundo. - Me deixe em paz.

- Não percebeu ainda que isso não é uma opção? - Me lambeu a partir do meu queixo, passando por minha boca e nariz, até chegar à testa. Em seguida, soltou seu hálito de cigarro de menta em minha face. - Eu podia te devorar agorinha mesmo. - Gemeu.

Todo o esforço para lhe provar que não estava interessado foi em vão, pois meu corpo traiu-me, reagindo tão intensamente que ela pôde sentir contra si meu desejo.

- Seu corpo me quer tanto... - Desprendeu a toalha. - Pare de lutar. - Bella exalava um fogo capaz de derreter geleiras, quanto mais a mim, feito só de carne e osso.

Inebriado pelo seu perfume, fechei os olhos no momento em que ela deslizou a mão, passando a tocar-me intimamente.

- Droga! - Gemi batendo a cabeça contra o armário. Minha pulsação acelerou como se eu tivesse acabado de pular em um abismo.

Não satisfeita com a tortura, a maluca mordeu meu ombro com força, fazendo com que meus músculos se contraíssem de dor.

- Isso vai deixar marca. - Consegui reclamar sem um pingo de autoridade.

- Você aguenta. - Sussurrou começando a beijar o meu peito.

Eu não sabia onde tinham ido parar as minhas forças. Tudo que sabia era que continuava caindo naquele abismo.

Bella mordeu minha barriga, deixando novamente as marcas de seus dentes em mim. Ela não estava brincando quando disse que podia me devorar. Porém, as marcas eram o que menos me preocupava, pois os lábios de Bella começaram a seguir um caminho tortuoso que me levaria à total ausência de consciência e moral, mas antes que ela alcançasse seu objetivo, ouvimos a porta do vestiário ser aberta. Rapidamente a ergui pelos ombros e nos escondi atrás da coluna de armários.

- Edward? Amor? - A voz de Tânia me fez gelar da cabeça aos pés.

Bella ameaçou rir e precisei tapar-lhe a boca com a mão. Ela não estava nem aí, na verdade até pretendia continuar com suas brincadeiras pecaminosas.

Minha namorada continuou a me chamar e eu me vi totalmente sem saída. Por sorte, ela foi me procurar na ala dos chuveiros e aproveitei a chance.

- Vai embora! - Sussurrei para a ninfomaníaca.

- Não. - Respondeu se divertindo.

- Vai! - Rosnei por entre dentes.

Bella teve um lampejo de juízo e se dirigiu tranquilamente para a saída, mas antes de cruzar a porta me jogou um beijo. Salvo por um fio de ser flagrado, bati várias vezes a cabeça contra o armário, me odiando por ter sucumbindo aos encantos perigosos de Bella.

Poison - Alice Cooper

Seu plano cruel
Seu sangue como gelo
Um olhar poderia matar
Minha dor, sua vibração

Eu quero te amar, mas é melhor não tocar
Eu quero te abraçar, mas meus sentidos me mandam parar
Eu quero te beijar, mas eu quero muito isso
Eu quero te provar, mas seus lábios são venenosos
Seu veneno correndo pelas minhas veias,
Seu veneno...
Eu não quero quebrar essa corrente

Sua boca tão quente
Sua teia, eu estou pego
Sua pele, tão molhada

Eu escuto seu chamado e isto são agulhas e alfinetes
Eu quero te machucar só para ouvir você gritar meu nome
Não quero te tocar, mas você está sob minha pele
Eu quero te provar, mas seus lábios são venenosos
Seu veneno correndo pelas minhas veias
Eu não quero quebrar essa corrente
Veneno... veneno...

Um olhar
Poderia matar
Minha dor, sua vibração


Isabella PDV

Na Terça-feira continuei a observar Edward. Durante a aula em que sua namorada sentava ao seu lado, trocamos alguns olhares. Na verdade, ele checava se eu estava o encarando. Havia certo tormento em seus olhos que me fazia estremecer. Estava satisfeita com o modo como as coisas estavam caminhando em direção à minha vingança, mas em alguns momentos sentia-me insegura e meio perdida. Era tão... estranho deixar o Cullen me tocar novamente.

Tânia percebeu que havia algo de errado com seu namorado e na forma como me fitava, então passou a me encarar também. Incomodada com isso, pedi ao professor permissão para ir ao banheiro. Caminhei pelo corredor vazio ouvindo passos atrás de mim. Nem precisei checar para saber que se tratava de Tânia. Quando entrei no banheiro ela me seguiu e, ao ver que estávamos sozinhas, abriu o verbo.

- Pare de dar em cima do meu namorado! - Colocou as mãos na cintura.
Não havia muito que eu pudesse dizer ou fazer, por isso tentei ignorá-la. Abri a torneira e comecei a lavar as mãos, deixando que Tânia “esperneasse”.

- Quem você pensa que é, garotinha? Se enxerga, tá legal?! Nunca que o meu namorado vai se interessar por um tipinho como você. - Riu debochando, mas estava insegura. - Não perca seu tempo paquerando Ed. Pode perguntar por aí, ele não se envolve com vadias feiosas.

- Ok. - Respondi só para que me deixasse em paz.

Tânia se irritou por eu não estar preocupada com suas ameaças.

- Se eu vir você olhando pra ele novamente, arranco esse seu cabelo tenebroso. - Desarrumou meu penteado. - Já quebrei a cara de piranhas muito piores que você.

Suspirei, arrumei meu cabelo e enxuguei as mãos. Não pretendia brigar com Tânia, ela já ia sofrer quando eu conseguisse transar com Edward.

- Qual o seu problema? Amarelou, franguinha? - Minha falta de interesse na conversa a fez acreditar que me intimidou. - Achei que fosse a novatinha barra pesada... - Provocou enquanto eu abria a porta. - Não passa de uma sonsa duas caras!

Ela não sabia sobre meu passado, mas ao me chamar de duas caras...

Bella PDV

Fechei a porta e lentamente girei o corpo para encarar Tânia.

- O que disse? - Sorri torto.

- Além de burra é surda?

Tirei do sutiã meu isqueiro e um cigarro. Após uma boa tragada, me aproximei da vaca.

- Com medo da concorrência? - Fiquei a centímetros dela.

- Claro que não! - Se ofendeu. - Simplesmente não existe concorrência.

Sua vã confiança me fez gargalhar, em seguida, a empurrei com força contra a parede. Não permiti se quer que pensasse, fui logo cravando as unhas da minha mão esquerda em seu pescocinho.

- Não se preocupe... - Murmurei em seu ouvido. - Em breve te devolvo seu namorado, irmãzinha. - Apaguei meu cigarro em seu braço e me diverti com isso. Tânia gritou, mas não conseguiu se desvencilhar. - Só não me torre a paciência até lá. - Saí, deixando-a proferindo palavrões contra mim.

A ridícula não era um problema. Com certeza não contaria nem para o Cullen sobre nosso encontro, pois era orgulhosa demais pra permitir que soubessem que eu era capaz de arrebentá-la.

Isabella PDV

Depois da meia noite, os filhos da democracia voltaram a invadir as casas dos alunos através de seus computadores. Jasper ficou encarregado de ridicularizar as medidas que a diretoria tomou para reprimir a galera. Ao contrário de Edward, meu amigo tinha fibra e garra para liderar mesmo ainda não tendo total consciência disso. A diferença entre os dois é que Jasper tinha o pensamento livre, era um revolucionário nato. Ser finalmente ouvido estava fazendo muito bem a ele. Jasper se tornava cada vez mais desinibido, divertido e corajoso. Sei lá... Talvez sempre teve potencial para ser assim, mas os anos de abusos por parte dos Falcons atrapalharam seu desenvolvimento.

Deitada na cama de Jasper, enfiei um travesseiro na cara tentando fugir dos questionamentos que insistiam em martelar na minha cabeça.

- Qual o problema? Não está curtindo o programa? - Ele perguntou depois de colocar uma música para tocar.

- Não é isso. - Joguei o travesseiro longe. - Tem uma dúvida que...

- Fala!

- Quem dedurou Mike?

- Como assim?

- Não acha isso muito estranho? Estavam mesmo querendo prejudicá-lo.

- Pode ter sido qualquer um. - Riu. - O cara é um perfeito idiota, quem não queria vê-lo se ferrar?

- Eu sei, mas... - Sentei-me. - Quem fez isso não correu o risco de sofrer retaliação à toa. Alguém além de nós tinha muito interesse na prisão de Mike. Pensa comigo: quem está tirando vantagem da situação?

- Não sei... - Jasper baixou a cabeça, pensativo. - Espera! - Ligou-se em onde eu estava querendo chegar. - Você acha que foi o...

- Edward! - Assenti. - Pode parecer estranho, mas talvez ele tenha percebido que não tinha como evitar que tocássemos na reputação do Democracy, então adaptou seus planos egoístas à situação. Quem é o astro do time agora? - Balancei a cabeça com desprezo. - A diretoria está comendo na mão dele.

- Caramba... - Jasper viu que eu tinha razão. - Que filho da mãe ambicioso!

- Eu sei... - Lamentei baixando a cabeça. Surpreendi-me com a súbita tristeza e imediatamente a empurrei pra longe ao falar com firmeza. - Vamos acabar com o Falcon!

- Você podia usar essa ambição contra ele.

- Como?

(...)

Bella PDV

No resto da semana e principalmente durante o final semana saí com vários rapazes do Democracy. Mesmo não me divertindo muito, foi uma boa forma de confundir a cabeça de Edward e garantir a segurança de J.P. Meus acompanhantes foram alunos suspeitos de serem o líder dos filhos da democracia, por isso o Falcon não teria como duvidar da historinha vagabunda que pretendia lhe contar.

J.P me apoiou novamente e se encarregou de executar a segunda parte da armação. Ele passou a fazer pequenas críticas ao presidente do grêmio através de nossa rádio. Fez com que os alunos questionassem os verdadeiros interesses de seu líder, já que o Cullen sempre foi um pau-mandado da diretoria. Assim como os babacas que foram prejudicados pela rádio, Edward passou a levar os ataques para o lado pessoal, caindo direitinho na armadilha.

No Domingo à noite, fiquei ansiosa demais e decidi lhe fazer logo a minha proposta. Peguei o celular e liguei para o número que quase todos os alunos tinham.

Edward PDV

Estacionei meu Volvo perto da praia. Tânia e eu ficamos nos “pegando” dentro do carro. Ela beijava meu pescoço enquanto tentava abrir a minha calça, infelizmente eu só conseguia olhar para o teto, furioso comigo mesmo por ficar lembrando de Bella justo naquele momento.

Chegava a ser ridícula a minha situação. Sempre que fechava os olhos para beijar minha namorada via Bella. Nunca traí Tânia e agora estava me tornando um cafajeste só de pensar naquela... matadora. Me perguntava constantemente que tipo de feitiço havia me lançado, pois não podia ser normal me sentir tão atraído por alguém que judiava dos meus sentidos.

- Está chateado? - Tânia me fitou e não pude deixar de me sentir culpado.

- Está tudo bem, só... ando preocupado com algumas coisas.

- Relaxa, amor. - Espalhou beijos por meu rosto.

Determinado a não ser prisioneiro dos meus desejos proibidos, puxei Tânia para meu colo e lhe dei o melhor beijo que pude. Mais uma vez minha mente me traiu, fazendo-me ter uma sutil, porém cruel, alucinação. Será que queria tanto Bella a ponto de imaginá-la ali, em meus braços?

DROGA, EDWARD! VOCÊ ENLOUQUECEU?

De repente, meu celular tocou e me senti aliviado, pois consegui fugir da alucinação.

- Não atende. - Minha namora reclamou.

- Pode ser importante. - Atendi mesmo não reconhecendo o número. - Alô?

- Estou com saudades. - Reconheci a voz venenosa. Merda! Assim vou parar no hospício!

Primeiro tive vontade de jogar o telefone pela janela, depois me perguntei como a maluca conseguiu meu número e, por último, me lembrei que precisava disfarçar meu nervosismo, já que Tânia me observava com curiosidade.

- O que quer?

- Me encontra no estacionamento do Democracy em 20 minutos?

- Nunca. - Olhei para minha namorada e forcei um sorriso. - Estou ocupado agora, cara.

- Ah... - Bella riu. - Já saquei tudo. Tem certeza que não quer passar sua noite com uma mulher de verdade?

- Vou desligar.

- Espera. Tenho algo pra te oferecer.

- Eu sei o que é não estou interessado.

Bella gargalhou.

- Nossa, que mente suja... Não é o que está pensando. Sei quem é o líder dos filhos da democracia.

- Como é? - Fui pego de surpresa. - Está mentido!

- Você tem duas opções: pode ficar aí fingindo que sente tesão por sua namorada fútil e certinha, ou pode vir ao meu encontro e descobrir se estou falando a verdade. Estou indo agorinha mesmo para o Democracy.

- Vai cansar de esperar. - Fui ríspido. - Não tem nada que... - A cretina desligou antes que terminasse de falar. Foda!

- O que foi? Era Emmett? - Indagou Tânia.

- Sim. - Murmurei mentido muito mal.

Isabella PDV

Já eram 22:40h e nem sinal de Edward. Talvez não o conhecesse tão bem quanto imaginava. Realmente casada de esperar, liguei o Mustang e me preparei para ir embora, até que de repente vi o Volvo preto chegando ao estacionamento. Involuntariamente ri, constatando que o conhecia sim.

O Falcon ficou mais alguns minutos dentro de seu carro e me perguntei que tipo de discussão estava tendo consigo mesmo. Na dúvida se ia até ele ou o esperava se aproximar, acabei me encolhendo no banco.

Não precisei esperar mais, Edward saiu do carro e veio correndo até o Mustang. Assim que entrou no carro comecei a repassar rapidamente o plano em minha cabeça. Não queria embananar na hora de fazer a proposta decisiva.

- Fala! - Encarou-me, carrancudo.

Abri a boca para responder, mas seu jeito rude me fez esquecer a maior parte do que tinha ensaiado.

- Er... - Apertei o volante segurando-me ali. Droga! Lembra! Lembra!

O silêncio que se formou intensificou minha angústia. Edward começou a me olhar de uma forma diferente, ficando totalmente confuso com minhas expressões de dor por não saber o que lhe dizer.

- Está passando mal? - Ergueu uma sobrancelha, percebendo pela primeira vez que eu não era a rocha que todos imaginavam.

- Eu sei quem é o filho da democracia.

- Estou esperando que me conte.

- Não posso.

Ele gemeu, contrariado.

- Ótimo! Eu vim até aqui pra essa palhaçada? - Abriu a porta. - Não me incomode mais com suas mentiras e brincadeiras infantis.

- Te conto se fizermos um acordo. - Tentei ser firme, mas não estava sendo fácil.

- Vai sonhando. - Ironizou.

- Deixa de ser idiota. - O encarei irritada. - Ninguém tem mais interesse em pegar o cara da rádio que você. Sei que com isso salvará sua pele e a do Democracy.  O que te pedirei em troca da informação é pouco.

- Não tenho como confiar em você.

- Porque eu mentiria? Pense bem. Sou nova nesse colégio e pouco me importa o que acontece. Estou me lixando! - Mantive os olhos no volante.

- Como descobriu esse lance?

- Digamos que... - Respirei fundo. - Fiquei intima desse cara.

- É, imagino. - Fechou a porta acreditando na mentira. - O que você quer em troca? Dinheiro? Quanto?

O fitei revoltada. Não foi sua conclusão que me chateou, e sim as características de sua personalidade. Como podia ser tão imbecil, ganancioso e... mau? Ele traiu o próprio amigo e agora ficava ali fingindo-se de salvador do Democracy. O cretino era capaz de fazer qualquer coisa para continuar se sentido um líder intocável. O conhecia bem, mas nem por isso deixava de ficar enojada com sua falta de caráter.

Como lutar com alguém assim sem ter que descer a seu nível? Não dá! Preciso ser igualmente egoísta e má.

Preciso ser pior que ele...

Bella PDV

- Dinheiro eu tenho, Falcon. O que eu não tenho?

- Vergonha na cara?

- Acertou. - Gargalhei. - Mas, além disso, não tenho você. - Passei as mãos pelos cabelos.

- O que está querendo dizer? - Preferiu não entender.

- Não se faça de desentendido. Te dou de bandeja a cabeça do filho da democracia em troca de uma boa e prazerosa transa. 

Estreitou os olhos balançando a cabeça. Sua expressão de perplexidade não era nada comparada com a minha de deboche.

- Não vou cair nessa.

- Algo me diz que vai sim. - Cantarolei.

- Está subestimando a minha inteligência.

- Não estou nada. - Fiz biquinho. - Até vou garantir a sua parte. Estarei com a ficha do aluno em minhas mãos enquanto transarmos, depois que acabarmos te entregarei e pode ir com sua turminha dar um flagrante no cara. Viu? Não sou tão má. - Falei manhosa.

- Existe tratamento para esse tipo de distúrbio sexual sabia?

- Isso era pra ofender? - Gargalhei.

- Como conseguirá a ficha? - O deixei ainda mais irritado.

- Bem, eu não posso fazer tudo sozinha. Precisa me ajudar a ter acesso ao sistema do colégio.

- Impossível.

- Vamos lá... - Apertei sua coxa. - Você pode tudo. - Edward não era um hacker como J.P, por isso deixei que quebrasse a cabeça tentando solucionar a questão.

Outra vez resistiu às minhas investidas afastando minha mão de si, mas ao fazer isso o castiguei chupando-lhe o dedo com extrema sensualidade. Minha atitude acabou com a concentração do Falcon, evitando assim que pensasse devidamente nos prós e contras de minha proposta.

- Conheço alguém que tem a senha para entrar no sistema. - Afastou-se, ligeiramente consciente. - Mas ela só funciona no computador da diretoria. - O cara estava redondamente enganado. De fato, não estava conseguindo usar o cérebro.

- Ótimo. - Sorri satisfeita. - Hoje os filhos da democracia vão mandar ver na rádio. É a sua chance, presidente.

Refletiu um pouco.

- É arriscado demais e não confio em você. - Saiu do carro. - Desista, nunca vai conseguir o que quer. - Lutou para parecer enojado.

- Ei! - Gritei antes que se afastasse. - Te dou 1 hora pra pensar, depois disso... Já era. - Sorri torto.

(...)

Edward PDV

Fiquei um bom tempo dirigindo sem destino enquanto a proposta de Bella continuava a embaralhar minhas idéias. Queria achar um sentido em suas ações, mas ela era tão louca que eu não conseguia de forma alguma entendê-la. Por que transar comigo era tão importante? Não podia ser só diversão...

Por outro lado, queria muito colocar minhas mãos no filho da democracia. Todos os meus problemas se resolveriam com a expulsão do sujeito, pois, com certeza, o Democracy voltaria a ser o colégio tranquilo e formal que sempre foi. Os alunos voltariam a depositar sua confiança em mim, assim como a diretoria. Seria perfeito! Então a questão era: será que valia a pena arriscar minha reputação e namoro por um bem maior?

O questionamento remeteu-me a uma das frases mais ditas por meu pai em seus discursos: quem, em prol da sua boa reputação, já não se sacrificou?

Diariamente sacrificava o meu tempo, as minhas vontades, paciência e até mesmo meu bom senso só para continuar consolidando o título de melhor presidente do grêmio estudantil que o Democracy já teve. Na verdade, esse era o meu jeito de mostrar ao governador que eu estava me transformando no homem que ele moldou a vida inteira. Dormir com Bella, no final das contas, podia até ser um sacrifício pequeno e prazeroso, no entanto, me via relutante em confiar nela. A conhecia pouco e, até o momento, só mostrou que era rebelde e tarada. Existia uma possibilidade de que estivesse sendo sincera em tudo? Será que essa possibilidade era suficiente?

Bella PDV

A única coisa que dava para ouvir era o som de nossos passos no corredor principal do Democracy. Edward, mais uma vez, conseguiu arrancar farvozinhos do zelador.

- Vamos ser rápidos. - Disse abrindo com uma chave a porta do escritório do diretor.

- Sim, senhor. - Sorri.

Entrei no local e fui logo tentando acender as luzes, mas o Cullen me impediu e ligou só a fraca luminária.

- Qual o nome sujeito? - Sentou-se em frente ao computador.

- Acha mesmo que vou te dizer? - Revirei os olhos. - Entre no sistema, depois me deixe imprimir a ficha dele.

Edward bufou, mas obedeceu. Enquanto mexia no computador, fingi me interessar pelos livros na estante do Sr. Weber. Aproveitei a distração do Falcon e tirei de dentro do meu casaco uma pequena filmadora. Coloquei-a entre os livros, posicionada e ligada para que filmasse o ambiente em volta da mesa do diretor.

- Pronto. - Anunciou em voz baixa.

- Ótimo. - Sentei em frente ao computador e coloquei na busca o nome do aluno.  Edward, a meu pedido, manteve-se afastado. - Por que o interesse nesse cara? Qualé... Ele não é uma grande ameaça.

- Você não entenderia. - Respondeu com frieza.

- Acho que o malandro fala algumas verdades e isso faz com que os alunos parem pra pensar. Você, como presidente do grêmio, não deveria justamente lutar pelos interesses dos estudantes? - Questionei com sarcasmo.

- É o que estou fazendo. O Democracy não precisa de um arruaceiro.

- Arruaceiro? - Banalizei. - Muitos o consideram um revolucionário.

- Não me faça rir. - Edward se irritou mais do que eu esperava. - Que revolução esses merdinhas influenciáveis estão esperando? São um bando de mimados, não têm do que reclamar da vida. Essa rádio não passa de um pretexto pra tirar o sossego de quem está tentando fazer um trabalho sério por aqui.

- Pra mim parece que está levando isso pro lado pessoal só porque não é mais a cabeça do corpo estudantil. É tão ruim assim ser substituído por alguém que realmente pensa? - As alfinetadas penetravam no grande ego do Falcon.

- Não estou sendo substituído. - Riu sem humor. - Isso nem é possível. Eu sou O verdadeiro filho da democracia. Estudo na porra desse colégio desde os 8 anos, está me entendendo? Ajudei a trazer os títulos dos campeonatos e cuido 24 horas por dia da reputação do Democracy. Você, novata, não tem ideia das coisas que já fiz pra esse colégio continuar sendo respeitado como o melhor do Estado. Não vai ser agora que um imbecil apoiado por outros imbecis vai destruir tudo que EU CONSTRUÍ! - Gritou no final de sua declaração, mostrando que estava à beira de um colapso.

- Tudo bem, presidente. - Imprimi a ficha, contente pela filmadora ter registrando aquilo.

Me levantei e fui até Edward, o qual teve que respirar fundo pra recuperar o controle.

- Me dá a ficha. - Pediu estendendo a mão.

- Só depois... - Sentei em cima da mesa do diretor. - Vem cá, vem. - Dobrei o papel e o coloquei em baixo de mim.

- Perdeu a cabeça de vez? Aqui não! - Cruzou os braços.
- Por que não? - Tirei meu casaco de couro e o joguei no chão. - Achei que quisesse acabar logo com isso. Além do mais... - Fiz minha melhor cara de safada. - Me excita.  

Edward mantinha sua pose de bom moço. Ele ainda estava muito ligado à namoradinha, mas me olhava com a luxúria de um cafajeste. Eu o odiava, porém não via a hora de senti-lo dentro de mim. Então, para fazer o cretino sair de cima do muro, abri as pernas o convidando. Provavelmente não esperava que eu já estivesse sem calcinha.

Edward PDV

- Vem fazer seu doloroso sacrifício. - Murmurou sorrido.

Meus instintos me impeliam na direção de Bella, mas minha consciência alertava-me para não provar daquele veneno. Desejei não olhar para o caminho que suas mãos faziam por seu corpo, só que estava tão preso em sua teia que já nem ligava para onde estávamos, ou para o propósito que me levara até ali.
                                          
Definitivamente não sabia o que estava me deixando mais louco. Talvez fosse o jeito que desabotoava a blusa vermelha, mostrando-me o sutiã rendado. Podiam ser também suas pernas, descobertas pela saia parcialmente levantada ou... Lindas partes que ainda não tinha visto.




Quando Bella tirou totalmente a blusa, pensei em uma boa maneira de ficar indiferente, mas à essa altura cada centímetro do meu corpo já se considerava dela. Minha pele inflamou-se sem que a garota tivesse sequer me tocado. Vendo isso, Bella estendeu a mão encolhendo os dedos lentamente, chamando-me com seus olhos brilhando. Meus pé seguiram um caminho sem volta e, ao ficar frente à frente com o objeto de meu desejo, perdi completamente a cabeça.

Agarrei os cabelos de sua nuca e tentei lhe beijar, só que a filha da mãe não permitiu. Agarrou também meus cabelos afastando meu rosto. Logo me coloquei entre suas pernas deslizando as mãos até o fecho do sutiã. Não consegui me concentrar muito em meu propósito, já que Bella passou a lamber e morder minha orelha. Furioso com o poder que ela exercia sobre mim, arrebentei o fecho do sutiã e despi seus seios em um só movimento. 

Bella deitou-se sobre a mesa com um sorriso que me causava arrepios. Mantive minhas mãos firmes em seu quadril, passando a beijar-lhe da barriga até os seios, sedento e com a ânsia de um moleque virgem. Os suspiros que arranquei dela arranharam sem dó a minha consciência, deixando-me ainda mais perturbado.

Bella PDV

Enquanto sentia a língua de Edward em minha pele tive vontade de gargalhar. Determinada a nunca deixá-lo completamente satisfeito, o afastei antes que sentisse mais prazer do que eu.

Voltei a sentar e passei a mão pela sua jaqueta do time. O cretino não podia ter vestido algo melhor. Agarrei a jaqueta e o pressionei ainda mais contra mim, em seguida, lambi sensualmente seus lábios quentes. A respiração entrecortada do Falcon atiçou-me tanto que tive vontade de mordê-lo inteirinho.

Cansado de fingir ser um bom moço, tirou-me da mesa e me obrigou a ficar de costas para ele. Inclinada sobre a mesa, sorri ao sentir seus lábios roçarem em minhas costas. A ponta de sua língua fez um trajeto por minha coluna que até meu coração sentiu o impacto da deliciosa sensação.

Isabella PDV

Ofeguei e Edward me empurrou ainda mais contra a mesa, fazendo com que minha barriga encostasse na madeira. A força dominadora de suas mãos em minhas coxas e nádegas me fez lembrar da noite na biblioteca. Não era por ele estar me tocando igual, muito pelo contrário, agora estava vendo o quanto foi frio e mecânico aquela noite. O Falcon estava agindo de forma completamente diferente, me fazendo enxergar o tamanho da repulsa que sentiu ao roubar minha inocência.

Quando Edward tocou-me intimamente, fechei os punhos, chegando a amassar uns papéis que estavam sobre a mesa. Não senti prazer, apenas dor. Uma profunda e sufocante dor. Tive que me segurar para não chorar.

- Agora você me quer, não é? - Falei com a voz embargada e cheia rancor.

Ele não respondeu, apenas beijou o meu pescoço e se preparou para me fazer sua, mais uma vez. Por dentro, um fogo antigo começou a me consumir e suas chamas tomaram a forma de um escudo reluzente e sedutor...

- Bella... - A invoquei jogando os cabelos para trás.

Bella PDV  

- Não pare! - Gemi o incentivando a continuar com nosso delito.

Atrás de mim Edward enlouquecia de prazer abrindo a guarda para a punhalada fatal que em breve lhe daria. O desgraçado era mesmo um excelente amante, disso não podia me queixar, então tratei de aproveitar. O deixei pensar por alguns minutos que havia me domado, embora ele fosse apenas o meu playground.

Me virei e voltei a sentar na mesa, então continuamos a nos embebedar com meu o veneno. Enquanto ele aumentava o ritmo de suas investidas, cravei meus dentes em seu pescoço o fazendo proferir um palavrão. Ri de sua dor e o Falcon nada pôde fazer.

- Faça comigo como nunca fez com ninguém. - Ordenei entre gemidos.

Subestimei Edward, achando que não podia ser mais intenso. Como estava enganada... Ele passou a me devorar com uma brutalidade irresistível. Machucávamos um ao outro em uma disputa deliciosa pra mostrar quem tinha mais poder. E foi assim, completamente enlouquecidos pelo desejo, culpa, paixão e crueldade que alcançamos o clímax. Primeiro eu, e ele logo em seguida.

Com o delito consumado, desfaleci nos braços de Edward e ele pousou o rosto sobre meu busto, cansado demais para pensar em qualquer coisa. Ficamos quietos por cerca de dois minutos, então o Falcon se recompôs e foi fechar o computador. Me afastei para apanhar minhas roupas e aproveitei para pegar a filmadora.

Edward PDV

Saímos do prédio juntos, mas não trocamos uma só palavra. Eu ainda sentia os efeitos daquela garota em mim. A eletricidade provocada pelo prazer absurdo que senti mantinha meu coração pulsando em um ritmo acelerado. Ia levar um tempo para recuperar a razão e consequentemente pensar no que deveria fazer para encobrir minha traição.

Entramos em nossos carros e, antes que eu pudesse dar a partida no meu, Bella parou seu Mustang perto de mim e lançou-me um beijo, em seguida saiu cantando pneu.

Encostei minha testa no volante começando a sentir o velho e torturante remorso. Para driblar o sofrimento, peguei meu celular e me preparei para chamar os Falcons. Enfiei a mão no bolso da jaqueta e peguei a ficha do aluno disposto a armar um flagrante. Então, ao olhar para o papel, minha mão tremeu.

- FILHA DA MÃE! QUE CRETINA! - Gritei socando o volante. - VOU MATÁ-LA! EU JURO QUE VOU! - Bella tinha imprimido minha própria ficha. Descontrolado, quase destruí o volante.

Bella PDV

O velocímetro marcava 110 km/h quando atravessei o sinal vermelho deixando um rastro de caos. O doce sabor da vitória escorria por meus lábios igualando-se ao prazer que senti com o Falcon.

Acendi um cigarro e aumentei o som para que minha música abafasse meus gritos e risadas de felicidade. Comemoraria até esgotar completamente minhas energias.

(...)

Por volta das 4:00h da manhã estacionei em frente à casa de J.P.

- Onde você estava? - Indagou confuso.

- Por aí... - Sorri. - Hora de trabalhar. - Joguei-lhe a filmadora.

- Ah, meu Deus... - Ele já imaginava o que era.

- Não faça essa cara. Quero que coloque isso no site do Democracy o quanto antes.

- Não! Isabella, como seu amigo tenho o dever de lhe impedir.

Isabella PDV

- Já está feito, Jasper. Não tenho mais nada a perder. - Suspirei.

- Tem sim! Se colocar isso no site vai destruir Edward, mas vai te destruir também. Já pensou nas conseqüências e no...

- Pára! - Por pouco não lhe tapei boca. - Passamos quase 6 meses tendo essa mesma conversa. Já falou tudo que tinha pra falar.

- Por favor, repense. Não vai ter volta, ficará marcada por isso talvez pra sempre. Todo mundo vai ver o que fez... Todo mundo mesmo! Já imaginou a vergonha?

- Eu... - Minha voz falhou. Baixei a cabeça me acovardando, pois pensar nas conseqüências era a única coisa que me distanciava de meus objetivos. - Preciso seguir em frente. Você prometeu que me ajudaria. Por favor, não me traia.

- Como foi que eu me meti nisso? - Passou as mãos pelo rosto, encurralado. - Ok! Façamos as coisas do seu jeito, mas antes me prometa que vai repensar só mais uma vez.

- Tudo bem, mas depois disso não falaremos mais em desistir, combinado?

- Combinado.

Olhei para frente sentido meu estômago embrulhar. Ser tocada por Edward mexeu muito comigo. Em alguns momentos adorei, em outros odiei, era demais pra minha cabeça. Necessitava colocar minhas intenções em uma balança e descobrir se terminar de afundar minha vida ainda era um preço aceitável para se pagar em troca da derrota de Edward.

(...)




A caminho da praia passei em uma farmácia e comprei a tal pílula do dia seguinte. De forma alguma me permitiria engravidar de alguém como o Falcon.

Sentada no capô do Mustang fiquei observando o mar. As cores alaranjadas do céu e as últimas brisas da madrugada não me trouxeram paz. O conflito dentro de mim se dividia entre um passado doloroso e um futuro misterioso. Se eu desistisse da minha “justiça” logo agora que tinha tudo nas mãos, certamente não teria outra oportunidade.

Às vezes me perguntava se não era melhor deixar Edward em paz e tocar a vida, mas que vida eu teria se não era capaz de esquecer as coisas que me fez? Nenhuma cirurgia ou tratamento me livraria das cicatrizes internas. Então, só me restava esperar que a derrota total de Edward trouxesse finalmente descanso para minha alma.

Não...  E se não tiver fim? E se nunca for o suficiente? Até onde esse ódio vai me levar? Existe alguma coisa capaz superá-lo?

Jasper me mostrou uma questão importante: a vergonha. Como ia lidar com isso? Todos os alunos do Democracy e até mesmo de outros colégios iam me ver transando. Talvez o país inteiro visse. Teria que carregar o apelido de “vadia” por um tempo indeterminado.

Droga! Onde estou com a cabeça? Não posso fazer isso! Não posso! Não consigo! Meu Deus, eu não vou conseguir!

O nervosismo me fez roer as unhas e eu já não fazia isso a um bom tempo. Assustada, olhei as minhas unhas e automaticamente lembrei...

Eu tinha 9 anos, cabelos compridos cobrindo o rosto, um corpo franzino e muitas coisas passando por uma cabecinha tão jovem.

Era hora do recreio e eu estava na parte mais isolada do parquinho. Minha única companhia era uma borboleta que acabara de pousar no gramado. Quieta, fiquei a observando. Todas as suas cores e formas me alegravam e me confundiam. Como podia uma lagarta feia se transformar em algo tão lindo? Eu não entendia que tipo de magia existia por trás daquilo, muito menos por que essa mesma magia não funcionava comigo.

Por estar concentrada na borboleta não percebi que Edward e seus amigos haviam se aproximado. Só os notei quando Edward começou a me cutucar com um graveto. Assustada, rastejei para junto de uma árvore e me encolhi esperando que me deixassem em paz, mas não deixaram. Nunca deixavam.

- Cuidado... - Uma menina falou com nojo. - Ela pode querer tocar em você, Ed.

- Que estranha. - Ele disse rindo, mas bastante curioso. - Vamos ver a cara dela. - Aproximou o graveto do meu rosto tentando afastar meus cabelos, só que não permiti e empurrei o graveto para longe.

Como se eu fosse uma bizarra atração de circo, riram e riram. Coloquei as mãos perto da boca e comecei a roer as unhas compulsivamente. Meu coração sempre ficava muito acelerado porque eu tinha medo de que me obrigassem a mostrar o rosto.

- Eca! Os dedos dela estão sangrando. - Um garoto falou alto.

Frequentemente aquilo acontecia, pois eu já não tinha unhas pra roer e mesmo assim continuava a arrancar o que podia. Era doloroso, mas o nervosismo não me deixava parar.

- Quem quer dar os dedos pra a Isabella duas caras comer? - Edward iniciou a brincadeira. As crianças passaram a correr em volta de mim, todas fugindo dele, que queria forçá-las a me tocar. - Não tenham medo! - Gargalhava.

Apavorada com a possibilidade de me machucarem, peguei uma pedra e arremessei contra Edward. Quase acertei a perna dele e por isso ficou furioso.

- Sua monstra idiota! - Jogou a pedra de volta e ela atingiu minha testa.

A dor intensa, infelizmente, não me fez ficar inconsciente. Minha cabeça começou latejar enquanto um zumbido fraco soava em meus ouvidos. O grito preso na garganta logo se transformou em lágrimas. Assim que o sangue começou pingar no meu uniforme as crianças fugiram para não levarem a culpa. No entanto o autor da agressão ficou para me observar sangrar.

- Você mereceu... Isabella duas caras! - Murmurou com ódio, em seguida fugiu antes que algum adulto o flagrasse.

Fiquei lá chorando enquanto tentava limpar o sangue. Ele passou a se misturar com meus cabelos e lágrimas, cobrindo principalmente a parte esquerda do meu rosto. Atordoada, tentei levantar, mas não tinha equilíbrio suficiente. A dor não diminuía e, mesmo assim, não conseguia chorar alto o suficiente para que alguém viesse me socorrer.

O ar saiu pela minha boca como se tivesse sido golpeada no estômago, de fato, as recordações eram tão dolorosas quanto isso.

Fixei meus olhos no horizonte me convencendo de que qualquer castigo que reservasse para Edward seria pouco. Por isso, decidi me livrar do senso de moral e instintos de autopreservação. Já não me importava com o futuro, desde que arrastasse Edward para a zona sombria de humilhação e rejeição em que vivi por anos. Por mim ele foi julgado, sentenciado e agora seria condenado.

Not As We - Alanis Morissette

Renascida e tremendo
Jogada num novo terreno
Incerto e nada convincente
Neste frágil e decisivo momento.

Primeiro dia, primeiro dia
Começar tudo de novo
Primeiro passo, primeiro passo
Eu mal consigo fazer sentido
e agora estou fingindo
até que eu, digamos, consiga fazer sentido...
Antes da ferida começar novamente.
Mas desta vez, Eu como Eu
e não como Nós...

Desarmada e hesitante
Tímida, sem nenhuma ajuda
Fingindo bravura, com força de vontade
Muito pouco e dificilmente aqui.

Primeiro dia, primeiro dia
Começar tudo de novo
Primeiro passo, primeiro passo
Sem conseguir fazer muito sentido
e agora ainda estou fingindo
até que eu, digamos, consiga fazer sentido...
Antes da ferida começar novamente
Mas desta vez, Eu como Eu
e não como Nós...

(...)      

Jasper e eu matamos aula para dar início à sequência de acontecimentos que levariam Edward e o Democracy ao chão. Não tivemos descanso, pois repensamos todos os detalhes a fim de criar o golpe perfeito. Sabíamos que não havia como o colégio “fechar as portas”, mas o que preparamos roubaria da instituição seu título de melhor colégio do Estado. Com todos os escândalos, o Democracy nunca mais seria o mesmo. Seu nome, que sempre foi motivo de orgulho, em breve carregaria o peso da vergonha.

Edward estava certo quando falou que os alunos eram um bando de mimados, ainda assim, mereciam ser tratados como indivíduos pensantes. Os estudantes estavam cansados de carregar no peito o brasão do Democracy mesmo sabendo que o lugar fedia a dinheiro sujo, favores sexuais, corrupção e bullying. Eles imploravam por uma renovação. E era exatamente isso que os filhos da democracia lhes dariam com a queda de seu líder fajuto e uma manifestação como nunca vista em um colégio particular.  

Antes da meia-noite Jasper colocou na página inicial do Democracy o videozinho safado que produzi. Até fizemos um minuto de silêncio em homenagem ao Cullen, pois o cara nos fez um favor ao ridicularizar seus eleitores e colegas.

- É agora. Pronta pra incendiar? - Jasper indagou com um grande sorriso.

Bella PDV

Acendi um cigarro e, após uma boa tragada, respondi:

- Pode crer que sim. - Peguei no ar o microfone que arremessou.

- 5... 4... 3... 2... - Apontou pra mim, liberando-me para ataque.

- É, vocês estão ligados nos filhos da democracia. AUMENTE O VOLUME! - Como sempre, minha voz estava disfarçada por efeitos digitais. Na verdade, os ouvintes achavam que J.P e eu éramos a mesma pessoa. - Este dia já começou de forma extraordinária e o Sol ainda nem nasceu. Cara, até tenho vontade de cantar! - Entrei na onda dos Ramones. - Hey ho, let's go! Hey ho, let's go! They're forming in straight line. They're going through a tight one... (Eles estão formando em uma linha reta. Eles estão indo junto com um vento forte...) - Gargalhei. - Hoje é dia de ter atitude e, pessoal, o presidente do grêmio mostrou o tamanho da sua “atitude” em um vídeo alucinante. O quê? Não estão entendendo? - Entornei minha cerveja. - Temos dois verdadeiros astros pornôs em nosso colégio. Se não acreditam em mim basta visitarem o site do Democracy! MANDA VER, FALCON!  - J.P colocou uma música do Nirvana para tocar e eu dei um tempo pra galera assistir o vídeo.

(...)

Passei um tempinho ridicularizando Edward Cullen de todas as formas, depois passei a bola para J.P. Ele deu a arrancada inicial na manifestação que faria a direção do Democracy se descabelar.

Tínhamos um grito de guerra em forma de música e essa tocaria a cada meia hora até que o dia amanhecesse. Youth Gone Wild do Skid Row era a nossa bandeira vibrante e cheia de força.




- O presidente do grêmio mostrou quem ele realmente é. - J.P pegou um dos meus cigarros. - Eu bem que gostaria de dizer que aquilo foi só sexo, mas o cara está atolado na merda de ambição que herdou de nosso “querido” governador. O Cullen não era o exemplo de virtude do Democracy? Eu não sei vocês, mas não quero que aquele poço de hipocrisia me represente. Sou um bastardo meio ignorante e ferrado, mas hipócrita? Não incluam isso na minha lista de culpas. Pela primeira vez estamos vendo nosso colégio despido e é tão feio... - Ironizou. - Sabe o que é pior? Vão tirar o vídeo do site, dar uma leve penalidade a Edward, expulsar a novata e vamos ser incentivados a esquecer o incidente. É claro que o nome da magnífica instituição não pode ser manchado. Tudo é questão de aparência! Aliás, somos induzidos a viver assim, entende? Está enraizado na nossa cultura. Por que razão acham que compram aquelas roupas de marca? Respondo: é o status que ela traz. Passa para os demais a imagem de que é bem sucedido. - Levantou-se revoltado. - E PRA QUÊ? Para se achar um pouquinho melhor do que os outros? Para sentir que faz parte do grupo social certo? Para mostrar pras pessoas que você pode ter aquele tipo coisa? FALA SÉRIO! - Chutou a cadeira. - Não é diferente no nosso colégio. Criam rótulos e cargos só para que alguns possam se sentir melhores do que outros. O engraçado é que a diretoria incentiva e ao mesmo tempo finge que isso não destrói a mente adolescente. Alguns saem do colégio com complexo de grandeza e depois se fodem na “vida real”, já outros acabam demorando anos para se “encontrar”, pois levavam uma vidinha fracassada só porque não se encaixavam em nenhum dos grupos predominantes. - Suspirou bebendo um pouco de gin. - Vou dizer uma coisa pra vocês, não vamos conseguir mudar o mundo, mas podemos mudar o nosso colégio. Até quando vão deixar que nos façam de idiotas? Tem uma coisinha presa na minha garganta, ah, e eu vou soltar: SER ADOLESCENTE NÃO SIGNIFICA SER BURRO! - Gritou até sua voz falhar. - Tudo bem, tudo bem... Admito! Tem sim uma grande parte que só está preocupada com futilidades e com o próprio umbigo, mas acredito que ainda existam jovens com inteligência e fibra. É para esses que estou arriscando meu futuro berrando na porra desse microfone! - A bolsa dele pra faculdade dependia de seu desempenho no Democracy. -  E vocês? O que estão arriscando para serem levados a sério? Precisamos nos unir e tomar as rédeas da situação! Amanhã vamos para o Democracy sem uniforme, vamos protestar e mostrar ao presidente que não somos “merdinhas influenciáveis”. Esqueçam as rixas banais, esqueçam as regras. Amanhã estaremos todos lá como Filhos da Democracia. ENTÃO, QUEM ESTÁ COMIGOOOOOOOOOO?


Skid Row - Youth Gone Wild

Movendo… Sim...

Desde que eu nasci eles não conseguiram me segurar
Outro desajustado, outra cidade em chamas

Não joguei pelas regras, nunca realmente me importei
Minha reputação ruim me leva a todo lugar

Olho e vejo que não sou apenas eu
Tantos outros estiveram onde estou
Somos os jovens, então mãos ao alto

Eles nos chamam de criança problemática
Passamos nossas vidas em julgamento
Andamos uma milha eterna
Somos a juventude selvagem
Estamos de pé e não vamos cair
Somos um e um por todos
Está escrito no muro
Somos a juventude selvagem

O chefe grita na minha orelha
Sobre quem eu deveria ser
Coloque um terno da Wall Street
Sorria filho, você vai ficar parecido comigo

Eu disse: "Ei cara
Há algo que você precisa saber
Eu lhe direi, a Park Avenue leva ao... Skid Row!"

Olho e vejo que não sou apenas eu
Estamos bem altos nunca haverá dúvidas
Somos os jovens, então grite

Eles nos chamam de criança problemática
Passamos nossas vidas em julgamento
Andamos uma milha eterna
Somos a juventude selvagem
Estamos de pé e não vamos cair
Somos um e um por todos
Está escrito no muro
Somos a juventude selvagem

Eles nos chamam de criança problemática
Passamos nossas vidas em julgamento
Andamos uma milha eterna
Somos a juventude selvagem
Estamos de pé e não vamos cair
Somos um e um por todos
Está escrito no muro
Somos a juventude selvagem
Somos a juventude selvagem


Isabella PDV

Perto das 8:00h estacionei em frente à casa de Jasper. Quando ele saiu de casa, precisei baixar meus óculos escuros só para ter certeza de que o gato vindo em minha direção era mesmo o meu amigo.

- Jasper? - Ergui uma sobrancelha.

Parado na calçada, apenas sorriu. O cabelo dele estava um pouco raspado na nuca e nas laterais, mas manteve seu cabelo comprido na parte superior da cabeça. Talvez nem tivesse percebido seu novo corte se ele não estivesse usando um rabo de cavalo. As mudanças não se limitaram aos cabelos. Jasper tinha se livrado dos óculos de grau e agora usava óculos escuros bem descolados. Quando meu amigo não estava de uniforme geralmente usava um sobretudo velho e feio. Onde foi parar o sobretudo? Não tenho a menor ideia! Jasper estava com um jeans surrado, camiseta preta e não dispensou o blazer do Democracy, o usando como uma piadinha. O visual rebelde realmente o deixou mais atraente.

- Droga! Eu também queria ir arrasando. - Gargalhei.

- E você está. - Entrou no carro.

Meu uniforme continuava “adaptado” para tirar a concentração dos garotos, pernas e barriga eram o meu forte. Eu bem queria me juntar os filhos da democracia no protesto, mas tinha que entrar no colégio e ver o que a direção faria com Edward.

- Está com medo? - Jasper me encarou.

- Morrendo.

Não sabíamos o que nos aguardava. Tínhamos apostado todas as nossas fichas naquele plano. Não havia um plano B. Tudo podia ter acontecido, desde Edward ter conseguido se safar, até ninguém ter aderido ao protesto por se acovardar. Havia uma probabilidade muito grande de nosso único tiro ter saído pela culatra. Isso sem falar que corríamos o risco de nos ferrar assim que colocássemos os pés no Democracy. Ainda assim, o que mais me aterrorizava era o pensamento de que talvez nunca mais tivesse outra chance de acabar com Edward.

- Quer saber? - Deu de ombros. - Fizemos tudo que podíamos e o que não podíamos, Isabella. Agora só nos resta encarar de frente a vitória ou o fracasso.

- Quero te agradecer por tudo que fez. - Coloquei uma mão em seu ombro.

- Eu é que te agradeço. - Sorriu.

- Não importa o que aconteça, entramos nessa roubada de cabeça baixa...

- Mas vamos sair dela de cabeça erguia. - Completei apertando sua mão.

Olhei para frente, recoloquei os óculos escuros e dei a partida.

(...)

Quando chegamos ao colégio, ficamos parados observando o “circo” montado no estacionamento do Democracy. Nem em nossos sonhos mais ambiciosos imaginamos que tanta gente ia se juntar aos filhos da democracia. Havia vários carros tocando a música do Skid Row e centenas de alunos pulando em volta com a letra na ponta da língua. Pessoas consideradas influentes se misturavam aos rejeitados ignorando as regras ridículas que foram estabelecidas nas gerações anteriores.

Pela primeira vez não havia divisão ou interesses conflitantes, pois todos ali estavam buscando algo além da vidinha pré-estabelecida pela instituição e suas normas de conduta. Finalmente estávamos vendo quantas pessoas nossa mensagem alcançou, e eu não precisava contar para ter certeza de que 90% dos estudantes estavam presentes, dispensando o uso do uniforme só para fazerem parte de algo realmente importante. Não sei como isso aconteceu, mas nossa vingança misturou-se de tal forma com os ideais utópicos de Jasper, que no final das contas, se transformou em algo benigno e libertador.

Com a perplexidade pairando sobre nossas cabeças, tiramos os óculos escuros, nos encaramos por três segundos, então explodimos em uma gargalhada. Queríamos sair gritando, mas tivemos que nos conter para não virarmos suspeitos.

O refrão de Youth Gone Wild soava em coro de uma forma tão potente que era impossível ficar indiferente. Dava vontade sair pulando e se entregar àquela energia que emanava de todos os lados.

- Olha aquilo! Olha aquilo! - Jasper me cutucou indicando o cara que carregava uma faixa vermelha com o nome “Força aos Filhos da Democracia”.

- Meu Deus... - Murmurei embasbacada.

Não fazia a menor idéia de como a diretoria estava lidando com aquilo. Pareceu que tentava ignorar o tumulto permitindo a entrada só de quem estava uniformizado, mas em breve eles teriam que tomar uma atitude, pois o número de pessoas no protesto aumentava cada vez mais.

Nervosa, subi em cima do capô do meu carro e procurei por aquele que deveria estar sendo julgado pelos alunos.

- Ele não está aqui. - Disse Jasper. - A essa altura Edward já fugiu da cidade com o rabinho entre as pernas.

- Não pode ser... Não é justo!

Edward PDV

Entrei no banheiro masculino com o cabelo e o uniforme sujos de ovo. Tentei tirar o excesso de sujeira com papel, mas não adiantou nem um pouco. Lavei bem o rosto e depois encarei meu reflexo. Não pisquei os olhos na esperança de acordar daquele pesadelo.

Só soube o que Bella fez depois que cheguei ao Democracy. Foi um imenso choque encontrar uma multidão protestando no estacionamento. Quando colocaram os olhos em mim canalizaram toda a revolta em forma de vaias e xingamentos. Foi perturbador ter centenas de pessoas me ameaçando, me senti totalmente acuado.

Encostei a testa no mármore da pia com vontade de vomitar. Meu corpo estava reagindo à vergonha... E eram muitas vergonhas. Todos assistiram ao vídeo onde eu desrespeitava os alunos e depois transava com Bella na sala do diretor. Não sabia o que fazer, não entendia por que aquilo estava acontecendo comigo. Era como se tivessem me jogado no centro de um tornado e eu girasse rápido demais...

A analogia juntamente com o mau cheiro finalmente me fez vomitar. Joguei mais um pouco de água no rosto e ouvi um gemido abafado. Estava ficando louco ou conhecia aquele gemido? Era inconfundível!

Corri para o último cubículo, pois era ali que os Falcons transavam com as garotas fáceis. Ao ver que estava fechado me curvei e avistei os pés do casal. Coloquei as mãos na porta e minha respiração falhou.

- Tânia? - Indaguei sem vontade.

Depois que fui enganado por Bella, finalmente tomei consciência de que ela era capaz de tudo, então, para não correr o risco de Tânia saber sobre meu deslize pela boca da maldita, eu mesmo contei. Ficamos a madrugada trancados no carro brigando, na verdade Tânia brigou e eu fiquei apenas escutando, pois não havia argumentos a meu favor.

- Eu sei que está aí. - Me afastei com a nítida impressão de que tinham agulhas perfurando meu peito.

- Que bom que sabe. - Abriu a porta com a face fechada em rancor.

- O que está fazendo? - Era difícil demais perguntar.

- Estou pagando na mesma moeda. - Respondeu com os olhos marejados.

Balancei a cabeça tentando falar, mas não consegui. Eu sabia que merecia, só que a dor da traição anula a lógica.

- Você nos humilhou, Edward! - Começou a gritar soluçando. - Jogou tudo que construímos no lixo por causa de uma vagabunda. Tanto que fiz por você, tanto que...

- Do que está falando? Tanto que fez por mim? - Ri sem humor. - Você não era absolutamente ninguém quando te conheci. Não era por minha causa que bancava a “santinha” do colégio. Fazia tudo isso para ser respeitada e admirada. Então, por favor, não me venha com esse papo.

- Está brincando? - Se revoltou. - Denunciei o Mike para você ser o melhor Falcon. Fiz isso pelo seu futuro, seu cretino ingrato!

- O quê? - Deixou-me ainda mais perplexo. - Foi você?

- Quem mais teria coragem? - Fitou-me com ódio.
 
Decidido a não me deixar distrair por aquilo, puxei Tânia pelo braço desbloqueando a passagem e invadi o cubículo a fim de acabar com a raça do covarde escondido ali. No entanto, quando coloquei os olhos no individuo, um nó se formou em minha garganta.

- Foi mal, cara. - Emmett murmurou.

Preferia que Tânia tivesse transado com o time inteiro, mas não com Emmett. Éramos amigos desde que me entendia por gente. O cara era a única pessoa no mundo em que eu confiava... e a única que não tinha motivos pra me trair. 

- Por quê? - Se havia algo sólido dentro de mim, começara a rachar naquele instante.

- Achei que estava tudo bem já que... fez o mesmo com a novata. - Pigarreou fechando a calça. - Não vamos deixar isso afetar nossa amizade, certo? São só garotas!

- Nunca transou comigo, mas transou com ele? - Encarei Tânia.

- Não vou carregar o apelido de corna. - Cruzou os braços. - Prefiro ser chamada de qualquer outra coisa, menos de corna.

Tânia estava mais preocupada em salvar o que restou de sua reputação do que com o nosso relacionamento.

Precisei sair do banheiro para não sufocar. Sem rumo, não sabia que direção tomar, então caminhei pelo corredor principal. De repente, ouvi meu nome ser chamado pelos alto-falantes. Imediatamente fechei os olhos, sentindo que toda uma vida de dedicação fora arruinada pela exploração do meu pior erro.

- Edward, espera! - Emmett me alcançou e ousou colocar-se diante de mim. - Cara, não vale a pena ficar bolado por isso. Não estou tentando roubar sua namorada, foi só sexo.

Uma cortina vermelha fechou-se sobre minha visão esmigalhando o resto de dignidade que ainda me restava. Em um ímpeto, empurrei Emmett contra os armários e avancei sobre ele esmurrando o seu rosto. Como eu esperava, ele reagiu. Colocou a mão no meu pescoço e me forçou a recuar.

- Não precisava ser assim, Ed! - Socou meu estômago.

Afastei-me curvado e sem equilibro, porém aquilo só intensificou o ódio que me consumia em chamas violentas. Assim que recuperei o ar, novamente avancei sobre o traidor o derrubando da única forma possível. Joguei todo o peso do meu corpo sobre o de Emmett e ambos fomos ao chão. À essa altura, nossa briga já tinha atraído os poucos alunos no colégio, os quais usaram os celulares para registrarem a briga, interessados nas causas que nos levaram a ela.

Emmett era bem maior que eu, mas isso não reprimiu a vontade insana de matá-lo. Eu sabia que ia apanhar, mas queria deixar a marca do meu punho na cara dele.

(...)

Isabella PDV
 
Tive que me refugiar no Mustang, pois alguns estudantes que me reconheceram começaram a me xingar por causa do vídeo. Agora era oficial, eu tinha virado a piranha mais odiada do Democracy. Estava acostumada com as pessoas me odiando, mas não sabia como lidar com a falta de respeito dos rapazes.

Estava preocupada com o sumiço de Jasper. Ele tinha ido checar se era seguro minha entrada no colégio, mas estava demorando muito. Então, quando eu menos esperava, ele entrou no carro.

- O negócio ficou feio. - Ofegou.

- Como assim?

- Edward saiu no braço com Emmett dentro do Democracy. Pela foto que vi no celular de uma garota...

- O quê? O quê? - Aflita, queria saber de tudo.

- O fortão do time bateu no Cullen sem dó.

- Por quê? - Franzi o cenho.

- Essa é a melhor parte. - Riu. - Emmett transou com a Tânia.

Recebi a notícia de boca aberta. Fiquei tão surpresa que mal consegui rir.

- Mas isso é perfeito! Nem acredito!

- Será que a vida do cara pode ficar pior do que já está? - Senti um vestígio de pena na voz de Jasper.

- Espero que sim. - Baixei a cabeça.

- Dizem que chamaram seu nome pelos alto-falantes. Tem certeza de que quer passar por isso?

- Não posso me acovardar agora. - Murmurei suando frio.

- Não vá, o Sr. Weber só vai te constranger e te expulsar.

- Quero ver o Edward. - Fechei os olhos. - Preciso vê-lo derrotado.

- Como pretende encarar essa multidão?

- Sendo exatamente quem eles esperam que eu seja. - Arfei.

Bella PDV

Erguia a cabeça e tirei os cabelos do rosto.

- Nesses tempos difíceis... - Abri a porta do carro. - Os covardes latem e os corajosos seguem em frente.

Deixei J.P para trás e me enfiei entre os alunos, os quais abriram caminho ao notarem minha presença. Havia um misto de espanto e zombaria ao redor de mim. Alguns engraçadinhos me cantavam, as garotas me repudiavam e outros simplesmente não acreditavam que tive coragem de aparecer. Nada nem ninguém foram capazes de me abalar, pois eu tinha conseguido tudo que queria. O resto... Era o resto!

Edward PDV

O Sr. Weber tagarelava alto, me repreendendo por causa de minha conduta inapropriada. Fingi ouvir, mas minha cabeça estava tão cheia que sua voz soava como um zumbido distante.

Respirei com dificuldade mais uma vez e limpei o sangue que escorria da minha boca. Brigar com Emmett foi burrice, pois apanhei mais do que bati. Minha mente estava tão embaralhada que não consegui raciocinar rápido o suficiente para me defender da maioria dos golpes.

Não sei quem ouviu nossa discussão, mas parecia que todo o colégio já sabia que Tânia tinha transado com o meu melhor amigo. Os escândalos pesavam sobre meus ombros e me sentia caindo de joelhos. Minha ex-namorada ficou sentada ao meu lado e seu choro não me deixava esquecer o quão canalha fui ao lhe trair, porém ela tinha feito o mesmo comigo e isso amenizava meu remorso.

Por estar na sala do diretor, Emmett finalmente calou a boca, mas até sua respiração me irritava. Nunca mais ai suportar olhar na cara dele. Sua falta de lealdade não tinha desculpa.

Quando achei que meu tormento não podia ser maior, a porta da sala foi aberta e o perfume da desgraçada empesteou o ambiente. De cabeça baixa, tive que reprimir a vontade de matar Bella. 

- Moça, sente-se! - O diretor ordenou e me forcei a prestar atenção na conversa.

- Como queira. - A garota sentou-se ao meu lado tripudiando sobre mim.

- Quem colocou isso aqui? - Virou o monitor na direção dela. Ele tinha me feito a mesma pergunta e obviamente acusei Bella.

A cretina deu uma boa olhada no site e com desdém, respondeu:

- Meu chapa, não faço a menor ideia.

Como ela pode ser tão descarada? Filha da mãe!

Involuntariamente passei as mãos pelos cabelos quase os arrancando. A vontade de estrangular Bella estava me levando às raias da loucura.

- Essa maluca está mentido! - Gritei perdendo o controle novamente.

- E por que estaria? - Revidou.

- Você armou tudo! Armou pra cima de mim, sua maníaca!

Bella gargalhou.

- Amigo, do que está falando?

Levantei-me pra obrigá-la a confessar.

- CHEGA! - O Sr. Weber se impôs. - Ainda não perceberam o quanto estão arruinados? Por causa da repercussão desse vídeo, nenhum colégio particular do país vai aceitá-los. Isso tudo ficará no histórico permanente de vocês, então esqueçam as melhores universidades, pois eles não aceitam jovens com esse tipo de índole.

- Isso não pode estar acontecendo comigo. - Murmurei sentando-me.

Bella PDV

- Vou ser sincera com o senhor. - Me fingi de inocente. - Eu transei com o Edward, sim, mas não fui eu quem filmou e coloquei no site. O senhor sabe que isso é coisa de garoto. É evidente que esse idiota fez isso pra mostrar aos amigos que me comeu. Precisa entender que a vítima aqui sou eu. Não imagina o quanto estou sofrendo... - J.P tinha editado o vídeo eliminando qualquer coisa que me condenasse. - Todas aquelas pessoas me vendo, eu...eu... - Deixei que uma lágrima escorresse por meu olho esquerdo. - Me sinto violentada.

Edward ficou mudo, tamanha era sua perplexidade. Lívido, me encarou como se eu nem fosse humana. 

- Não quero saber. Os dois são culpados e irão lidar com as consequências. Liguei para os pais de vocês e eles estão vindo. Ninguém vai sair dessa sala até a questão ser resolvida. - Fiquei feliz pelo diretor inútil finalmente tomar uma atitude de homem. Ia ser muito interessante ver os pais de Edward pirar com o que ele fez.

- Não, Sr.Weber. - Edward começou a implorar. -Tenho certeza que podemos resolver isso de outro jeito. Por favor, precisa fazer algo por mim. O centenário está chegando e...

- Lamento, Edward. Não posso te ajudar. Os donos da instituição exigem que seja expulso. - Assisti com prazer a face do Cullen se contorce de dor e preocupação. Os olhos dele começaram a refletir o vazio do fracasso.

De repente, a secretaria entrou na sala berrando:

- Sr. Weber, os alunos estão tentando invadir o colégio, precisa...

Para a surpresa de todos, atiraram pedras contra a vidraça da sala. Ela estilhaçou, fazendo de todos nós alvos fáceis. Os covardes jogaram-se no chão, mas eu continuei sentada e acendi um cigarro enquanto o diretor ligava para a polícia. O coroa gritou com os desordeiros e por isso eles fugiram, deixando-o ainda mais bravo. Sem alternativas, o Sr. Weber nos abandonou e foi tentar conter os manifestantes. Assim que ele saiu, fui para a janela atraída pelo pandemônio. Mesmo de longe, podia ouvir a voz de J.P disfarçada pelos efeitos. A gravação vinha do alto-falante de um carro, alguém estava usando o discurso dele para incitar ainda mais os estudantes.

Sorrindo, respirei fundo deixando que o cheiro da total desordem invadisse meus pulmões. Então, Ignorando tudo, principalmente os olhares de fúria vindo de Edward e sua corja, peguei a cadeira em que estava sentada antes e, sem pensar duas vezes, a joguei contra o que sobrou da vidraça. Antes de fugir, encarei mais uma vez o Cullen e dei um sorriso cheio de significados ocultos. Pulei a janela a fim de me encontrar com J.P para que comemorássemos o sucesso de minha “justiça”.

Enquanto atravessava o pátio correndo, podia ouvir o som das sirenes da polícia e o grito de guerra dos estudantes. Estava rodeada pelo caos e por ter sido justamente gerada por ele, sentia-me plena.



1 MÊS DEPOIS



"O curso do amor verdadeiro nunca fluiu suavemente."
(William Shakespeare)





Edward PDV




Levantei-me do chão quando os Falcons saíram do banheiro. Carente de forças, me inclinei sobre a pia e cuspi o sangue que enchia a minha boca. Ao olhar para o espelho, novamente me vi como um semi-vivo. Já fazia dois dias que meu olho esquerdo não abria por estar muito inchado e tinha mais hematomas que um lutador de rua. Infelizmente, os autores das agressões eram justamente aqueles que antes eu considerava meus companheiros.

Haviam se passado semanas desde que deixei de ser presidente do grêmio e atleta para me tornar uma vítima de bullying. Os Falcons começaram a me odiar quando Emmett abandonou o barco e se transferiu para outro colégio. Ele foi jogar com nosso maior rival em uma tentativa de manter sua reputação intacta, no entanto, todos desconfiaram de que foi embora por minha causa. Então quando o filho da democracia anunciou na rádio que eu havia dedurado o Mike, as desconfianças tornaram-se convicções.

No início eu lutava e resistia, mas depois de um tempo cansei de nadar contra a correnteza e simplesmente me entreguei. Não me importava com absolutamente nada, nem mesmo minha saúde. 

Quando o sinal tocou, coloquei meus óculos escuros e peguei minha mochila do chão. Esperei os alunos irem embora e saí do banheiro a passos errantes.

Há um mês, tudo que queria era não ter que deixar o Democracy, mas agora amaldiçoava o poder do governador. A duras penas ele convenceu os donos do colégio a não me expulsarem, só que em troca exigiram o responsável pelo delito envolvendo o vídeo. Meu pai achou por bem encerrarmos a questão o quanto antes e eu vendi minha alma assumindo a culpa por tudo. Foi uma das coisas mais difíceis que já fiz.

Para que não ficasse tão evidente a influência de um político em questões internas, tiveram também que manter Bella no colégio. Os alunos não aceitaram bem a decisão e continuaram a fazer pequenas manifestações através de sites e blogs. Eles sentiam que a instituição estava completamente vendida e que não existia justiça que me alcançasse. Ninguém conseguia ver que eu estava vivendo entre o céu e o inferno, condenado a vir todos os dias para o colégio e suportar insultos, agressões e solidão. Não havia ninguém que não me odiasse e que não me culpasse pela piada que o Democracy se tornou quando o vídeo ganhou repercussão nacional, sendo usado pelos adversários políticos do meu pai para destruir sua campanha de reeleição.

Em casa, minha vida era ainda pior do que no colégio. O governador não me deixava esquecer que eu manchara seu nome com minha falta de responsabilidade. Ele esqueceu tudo que já fiz para lhe dar orgulho e lembrava-se apenas dos meus erros. Discutimos inúmeras vezes até que desistimos um do outro. Já não nos falávamos e o desprezo era mútuo.

Me arrastei até a sala de detenção para cumprir mais um mês do castigo. O local já esteve lotado de alunos que participaram da manifestação, mas os dias passaram e só restou Bella e eu.

- Está atrasado, Cullen. - O professor Gray falou quando me sentei na última carteira. - Quero uma redação com no mínimo mil palavras sobre o sistema educacional dos EUA.

Não respondi, apenas peguei o caderno e comecei a rabiscar palavras desconexas. Todos os dias depois das aulas ficava três horas naquela sala perdido em meus próprios pensamentos.

No início era quase insuportável respirar o mesmo ar que Bella. Cheguei a passar noites em claro procurando maneiras inteligentes de matá-la, mas até o ódio adormeceu quando o tempo passou e vi que absolutamente nada me faria ser o mesmo Edward. Então abandonei todas as preocupações e questionamentos, passei a respirar só por respirar... Viver só por viver.  

Isabella PDV

Que raiva!

Normalmente ignorava Edward, mas alguns dias ele aparecia demasiadamente machucado e isso me deixava revoltada. Não era divertido “chutar cachorro morto”, queria que ele resistisse comandado por sua soberba, mas o maldito se entregara ao fracasso de tal forma que não conseguia sentir prazer com sua dor. Isso me fazia pensar que talvez estivesse chegando a hora de finalmente ir embora. Meus pais tentaram me mandar para um colégio no Canadá quando a “bomba” explodiu, mas eu me fingi de arrependida só para ficar e assistir a ruína de Edward. O problema é que em nenhum momento imaginei que seria tão... tão ... Droga!

Simon - Lifehouse

Recupere seu fôlego,
Bata na parede,
Grite bem alto,
Como se você começasse a engatinhar

Volte à sua gaiola,
O único lugar
Onde eles vão
Deixar você sozinho

Porque o fraco
procurará o mais fraco até que o tenha destruído
Você poderia reverter isso de novo?
Seria o mesmo?
Satisfazem a falta de força deles
às suas custas,
Te deixam sem defesa,
Te derrubam.

E eu senti o mesmo, como você eu senti o mesmo,
Como você eu senti o mesmo

Fechado por dentro,
O único lugar
Onde você se sente protegido,
Onde você se sente seguro,
Você perdeu a si mesmo
em sua busca para encontrar,
Algo mais para se esconder atrás

Porque o medroso sempre preda em sua confidência,
Eles não vêem a conseqüência?
quando te empurram ..
O arrogante constroe reinos feitos de indiferentes pessoas,
Destruindo-os até que eles se tornem
Apenas outra coroa

E eu senti o mesmo, como você eu senti o mesmo,
Como você eu senti o mesmo, como você eu senti o mesmo.

Recuse-se a sentir,
qualquer coisa
Recuse-se a escorregar,
Recuse-se a cair,
Você não pode ser fraco,
você não pode ficar parado
Preste atenção a sua volta,
Pois ninguém o fará

Você não sabe como eles tiveram que ir tão longe,
Negociando o seu valor com estas cicatrizes
Para ser sua única companhia,
E não acredite nas mentiras que eles te disseram,
Nenhuma palavra era verdade
Você está certo, você está certo
Você está certo

E eu senti o mesmo, como você eu senti o mesmo,
Como você eu senti o mesmo, como você eu senti o mesmo.

(...)

No dia seguinte, durante a aula de História, Jasper cutucou meu ombro e virei para encará-lo. 

- Oi?

- Não esquece que temos aquele “lance” à meia-noite. - Ele se referia ao programa de rádio que passamos a fazer só duas vezes por semana.

- Tudo bem. Estarei lá. - Continuávamos a incitar os alunos contra a instituição, mas isso também já não me satisfazia tanto. Jasper se tornara o único locutor e eu apenas ajudava.

De repente, o alarme de incêndio soou e todos tiveram que sair da sala. Meu amigo e eu fomos os últimos a chegar ao corredor e por isso demoramos a entender por que todos riam.

- Já passei por isso e não tem graça. - Jasper murmurou.

Haviam pregado Edward pelo blazer no quadro de avisos e em sua testa estava escrito “bundão”. Eu também não achei engraçado, mas o restante dos alunos achou hilariante ver o ex-presidente do grêmio, o rapaz que um dia todas as garotas desejaram, metido em uma situação tão constrangedora.

- Não faça isso! - Sussurrei.

- O quê? - Fingiu-se de desentendido.

- Não sinta pena dele.

- Não sinto. - Baixou a cabeça. - Ok... Eu sinto.

Voltei para a sala e ele me seguiu.

- Aquele inútil merece sofrer muito mais! - Praguejei.

- É que é tão estranho. - Jasper me alcançou. - Ele não reage.

- É um covarde. - Sentei na carteira.

- Era pra ser divertido, mas não está sendo, porque... - Ficou plantando na minha frente balançando a cabeça. - Todo mundo um dia quis ser Edward Cullen, por isso é meio triste vê-lo tão... acabado.

- Não seja ridículo. - Me aborreci. - Já esqueceu todas as coisas que ele fez?

- Mas...

- VOLTEM PARA OS SEUS LUGARES! - O professor ordenou em alta voz e assunto morreu ali.

(...)

Assim que cheguei à detenção, comecei logo a fazer o exercício que o Sr. Gray passou na esperanças de ser liberada mais cedo. Cinco minutos depois, Edward entrou na sala e sentou-se no lugar de sempre. O professor passou o mesmo exercício para ele, só que notei que havia algo de errado com o Cullen. Ele não tirava a mão esquerda do bolso e passou vários minutos com o rosto enfiado no caderno.

Inquieta para saber o que estava acontecendo, fui até o Sr. Gray com a desculpa de tirar uma dúvida sobre o exercício e deixei na mesa dele um bilhete. O professor leu o bilhete e foi ver o que Edward tinha.

- Qual o problema, rapaz?

Fingi ignorá-los, mas estava atenta à conversa.

- Nada. - Ele respondeu baixo.

- Se sente bem?

- Sim. - Continuou fazendo o exercício.

- Posso ver sua mão esquerda?

Edward demorou a responder.

- Não.

- Ou me mostra sua mão ou vai pegar mais uma semana de detenção.

Não resisti e o fitei. Quando Edward mostrou a mão, ela estava completamente ensanguentada. Tinham arrancado uma unha dele.

- O que foi isso? - O professor ficou chocado.

- O técnico pediu demissão e foi treinar a equipe de basquete do colégio Buckley. - Respondeu baixo para que eu não ouvisse.

O Sr. Gray não entendia que os atletas culpavam Edward por todas as dificuldades que o Democracy estava passando.

- A enfermaria já está fechada. Vá para casa.

Voltei a olhar para o caderno sem saber se adorava ou odiava os Falcons. Mas de uma coisa tinha certeza, transar com Edward desencadeou uma sequência de acontecimentos interligados que continuava a destruí-lo mesmo sem eu mover uma palha. Queria me orgulhar disso..., mas não conseguia.

(...)

Centenas de pessoas estavam conectadas aos os filhos da democracia. Sem me consultar, Jasper montou um esquema para colocar os ouvintes no ar. Os incentivou a ligar e contar anonimamente seus segredos. Poder falar tudo que pensava mudou meu amigo e agora ele queria que outros passassem pelo mesmo tipo de experiência. Jasper deu aos jovens exatamente o que eles precisavam: uma chance de serem ouvidos.

Por horas ouvimos os mais diversos tipos de confissões. Coisas que faziam parte do universo adolescente como: problemas com drogas, revolta com os pais, vida escolar frustrada, medo de assumir suas opções sexuais, depressão, amores não correspondidos... Ouvimos casos tristes, outros nem tanto, mas cada uma dessas pessoas tinha uma história de vida. Isso me fez questionar os motivos que me levaram a acreditar que a minha história era pior do que a deles. Será que eu tinha mesmo o direito de ser cruel?

Quando Jasper colocou mais um ouvinte no ar, abri outra cerveja.

- Fala aí, amigo, você está no ar. - Ele disse relaxando na cadeira.

- Oi. Eu só queria confessar uma coisa... Assim com todos os outros.

- Estamos te ouvindo.

- Muitas coisas ruins têm acontecido comigo e eu nem sei direito por que, mas quando paro e penso na minha vida... Sabe, talvez eu realmente mereça.

- O que te faz acreditar nisso?

Deitei-me na cama de Jasper morrendo de sono.

- Quando eu era criança, por anos maltratei uma garotinha que tinha... cicatrizes pelo corpo inteiro.

Jasper me encarou com a mesma expressão de surpresa que estava estampado em meu rosto.

- Continue. - Ele mal conseguiu falar.

Edward PDV

Passei uma mão pelo cabelo e suspirei com dificuldade.

- Já faz tanto tempo, mas ultimamente tenho pensando muito nessa menina. - Olhei fixamente para meu reflexo no espelho do roupeiro. - Às vezes é como se eu ainda estivesse lá. De alguma forma preso naquele momento. Eu fui tão cruel e maldoso, fiz coisas a essa menina que não se faz nem a um animal.

- Por quê?

Involuntariamente meus olhos ficaram úmidos e minha voz embargada.

 - Fazê-la se sentir um monstro me fazia acreditar que era superior. Só que foi assim que fui criado, entende? Por toda a minha vida ouvi que para alguns chegarem ao topo outros precisam servir de degraus. Sei que fazemos idiotices quando somos crianças, mas nem mesmo quando cheguei à adolescência a deixei em paz. - Baixei a cabeça por não suportar me olhar. - Tirei a virgindade dela só para agradar meus falsos amigos. - Engoli em seco. - Eu provavelmente traumatizei essa garota de todas as formas possíveis. Por muito tempo tentei imaginar como ela se sentia, mas só recentemente compreendi o tamanho do sofrimento que afligi a alguém tão... indefeso.

- Percebemos que se arrepende... - Pigarreou. - Mas se considera digno de perdão?

- Não. - Sentei-me na ponta da cama. - Sabe quando dizem “aqui se faz, aqui se paga”? Sempre achei isso uma bobagem, mas talvez exista mesmo algum tipo de justiça no universo. Talvez o passado sempre volte para caçar os culpados.

- Pensar assim faz você se sentir melhor?

- Só me faz perguntar que tipo de ser humano eu sou. - Fechei os olhos. - Porque já fui considerado confiável, influente, talentoso, mas quando olho pra dentro de mim mesmo... só vejo uma pessoa muito, muito feia. Sempre fiz tudo pelos propósitos errados e, agora que não tenho propósito algum, consigo ver tudo com mais clareza.

- Por que não fala pra essa garota como se sente?

- Acho que ela foi embora. Não a vejo há muito tempo, na verdade, nem consigo lembrar da última vez que a vi.

- Lamento. - Fez uma longa pausa. - Quem sabe um dia...




Desliguei o celular e em um impulso o joguei contra parede. Frustrado e atormentando, coloquei as mãos na cabeça e não consegui fechar os olhos para fugir das imagens que emergiam do lado mais obscuro da minha memória. Dezenas... centenas de vezes que massacrei sem piedade Isabella.

Era como se ela estivesse ali, sentada ao meu lado me assistindo enlouquecer. Sabia que tudo aquilo era reflexo de uma consciência pesadíssima, só que mesmo assim ainda conseguia sentir a presença da pequena criança cujo rosto eu nunca vi.

Isabella PDV

Apoiei as mãos na janela buscando ar. Podia sentir os olhos de Jasper sobre mim, mas não conseguia me virar para encará-lo. A confissão de Edward abriu todas as antigas feridas, me deixando em carne viva. Eu até podia sentir o maldito, era como se estivesse ali me assistindo enlouquecer.

- Isabella, ele se arrepende. - Jasper falou com receio.

Bella PDV

- Se arrepende? - Trinquei os dentes tremendo de raiva. - Ele me fez acreditar que eu não era nada! Me maltratou, me usou... O fogo marcou meu corpo, mas Edward marcou a minha alma. E agora ele se arrepende? Se arrepende?  ELE SE ARREPENDE? OH, ELE SE ARREPENDE! - Caí de joelhos socando o chão com toda a força. - ELE SE ARREPENDE! SE ARREPENDEEEEEE! AAAAAAAHHHHHHHH!

Isabella PDV

- AAAAAAAAAAAHHHHHHHH!

Jasper tentou me erguer, mas me debatia querendo socar o chão até que a dor física superasse a emocional.

- Isabella!

- ELE SE ARREPENDE! SE ARREPENDEEEEEEEE! - Lágrimas transbordavam por meus olhos enquanto meus gritos rompiam o silêncio da madrugada. - AAAAAAAAAAAAAHHHHHHHH! O ODEIO! - Jasper abraçou-me com força e meus soluços me impediram de respirar, mas não me calaram. - EU QUERO QUE ELE SOFRA! QUERO QUE ELE MORRA! Que ele morra... porque... - Cobri o rosto com as mãos. - Porque... Eu o amo, Jasper.

- O quê?

De joelhos, o segurei pelo colarinho de sua blusa e implorei:

- Me ajuda! Eu amo Edward desde que ele me tocou pela primeira vez. Me ajuda pelo amor de Deus porque não posso e não quero sentir isso. Estou cansada de ficar mentindo pra mim mesma o tempo todo. - Cai novamente em um pranto sofrido. - Por que ele? Me responde! POR QUÊ? Por que eu continuo presa àquele maldito?

- Eu... - Jasper ficou tão chocado que não pôde fazer nada além de me encarar.

Encostei minha testa no piso e tentei fingir, como muitas outras vezes, que Edward não era ninguém, mas era impossível ficar indiferente a alguém que se tornara, de muitas formas, o centro da minha existência. Eu não conhecia outra vida, pois só enxergava os laços que me atavam ao passado e ao presente. Tudo parecia girar em torno dele... Tudo.

- AAAAAAAAAAAHHHHHHHHHHH! - Gritei com desespero, tentando fugir de um sentimento doloroso e totalmente inexplicável.


***

Próximo Capítulo Aqui!

4 comentários:

Debie disse...

Tá, agora eu tenho um pouco menos raiva do Edward. Mas só um pouco. Coitadinho, ele sofreu pakas com a própria vida (agora eu entendo os motivos que o levaram a conhecer tamanhas atrocidades) E estou perplexa com a Bella. E com a Isabella também. Meu, nem tenho... palavras pra comentar a minha perplexidade...
Beijos

Chele.Cullen disse...

Eu estou lendo de novo! Quarta vez e nesse capítulo com essa música do T.A.T.U eu me arrepio e choro com a confissão do Eduard. É Lunah tu é D+ maesmo

Tammy Telles disse...

OMG são 2:31 da madruga do dia 08/08/2011 e estou aqui toda arrepiada relendo mais esta parte de P&C! Esse capítulo me ensinou tantas coisas que chego a parar no tempo para rever muitas de minhas atitudes e os meus verdadeiros objetivos na vida...
É intenso demais viver através da leitura desse capítulo todo o sofrimento e conflito que Izabella passa, e ainda mas ver a forma como o Edward vai de ouro a latão em sua vida, tudo por causa de atitudes mal pensadas e uma criação que lhe deu valores totalmente distorcidos...

Não me canso de dizer que adoro demais essa fanfic....

D.S.Miranda disse...

Mais uma vez essa fic mexeu comigo de todas as maneiras possíveis e impossíveis, mas essa parte em que a Bella diz que ama o Edward ( e a maneira como ela confessa) me deixou parecendo um porco-espinho.... essa fic sempre me poe pra cima... me faz pensar, me faz uma pessoa diferente a cada paragrafo... Amo o seu jeito de escrever!

bjos de um Lunnahtico kkkkkk !

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